Declarações de Nelson Rodrigues

Como e onde pensei, pela primeira vez, em Os Sete Gatinhos? Eu tinha vinte e poucos anos, quando fui ver um vaudeville. Platéia apinhada. Gente até no lustre. O espetáculo foi uma gargalhada só, feroz e infinita. Apenas um sujeito não ria: Eu. Naquele momento, eu descobria que o riso não cabe ao teatro. Só tem sentido a peça que dilacera. Enquanto os outros riam do vaudeville, eu me imaginei numa igreja. Eu estava lá, de joelhos. E, de repente, o padre vira uma cambalhota, elástica e acrobática. O coroinha começa a engolir espadas. Os santos saem dos vitrais e de gatinhas, equilibram laranjas no nariz como focas amestradas. Eis o mistério do teatro: A peça para rir, e com esta destinação especifica, é tão obscena como o seria uma missa cômica.

Texto de Nelson Rodrigues falando sobre sua peça Os sete gatinhos.


          
            Lendo esta "confissão" de Nelson, tendo a dizer que faço minhas suas palavras, a comicidade no teatro me irrita, principalmente pelo fato de que em suma é feita de maneira pobre e clichê, e para reiterar  este pensamento tive mais uma experiência, prova disto, na sexta feira passada, com uma "peça", se é que se pode chamar desta forma, fincanciada com nosso dinheirinho. 

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