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Primeiros Momentos do Sebo Complexo Arte


Na busca por livros condenados ou perdidos no tempo, para a abertura do sebo que será Complexo Arte e Livre, caímos num galpão de papel velho, ou mais precisamente na varanda do dono do papel velho; quando perguntamos por um tal Juliano (nome dado pelo nosso informante), percebi o proprietário um tanto confuso, mais parecia um suspeito tentando esconder algo da policia. Cansado da falta de objetividade de ambas as partes, perguntei se o tal Juliano não se encontrava, então!? _”Sim, ta...mas ...como eu posso te explicar..., é complicado...”. Coisas desse tipo agravariam a condição do suspeito se realmente fossemos policiais. Depois de uma longa e confusa conversa, entendemos que ainda era necessário a separação e organização dos livros dos demais tipos de papel; segundo o “cara” eram dunas de papel crivando o galpão.

Também descobrimos no decorrer da conversa, que todos os livros são triturados e acabam virando papel higiênico. _”Que pecado!” Sim, foi essa a reação da Raquel e a minha (apenas em pensamento) sobre o fato de toda obra intelectual que toma forma física para fazer parte deste mundo, muitas de qualidade didática e psicológica, humana e poética, longe de uma avaliação particular, pois são livros, essa coisa que é a vida, a sociedade, a espiritualidade, impressa, que deveria estar por aí, circulando de mão em mão, mente em mente; simplesmente se encaminha para um final no mínimo hilário; será esse o reflexo do Brasil? Pra onde foi a cultura? Que nasceu para ser leitura e acaba servindo para limpar a bunda da população. O livro está sendo visto por outros olhos, e suas palavras acabam borradas num final também muito poético (e por que não?), não para as pessoas, eu, você e eles, os que lêem e os que se limpam, mas para o texto, não escrito, texto vivido, sem data e necessidade de lembrança (ou com necessidade, sei lá); mas enquanto eu monto um sebo para fazer esse trabalho limpo de proliferação da cultura, de forma independente e artesanal, os grandes querem dinheiro e ganham para fazer o trabalho sujo, tanto os cúmplices quanto os que têm ação direta para tirá-los (livros) de circulação, coagindo com a redução do acesso ao desenvolvimento das classes menos favorecidas, vendo que um sebo é muito mais acessível mercadologicamente, do que uma livraria de livros novos, que nem precisaríamos citar, custam caro para o bolso tradicional do brasileiro.


Diego Marcell
15/07/07