Renovação do Cine Gloriah

Em 2004, o diretor teatral Reikrauss Benemond, 33 anos, chegou à capital paranaense com R$ 50 no bolso. Dois anos depois, ele estava ocupando o antigo Cine Glória, oferecendo aulas de interpretação e apresentando espetáculos em que atuava, produzia e dirigia. Há duas semanas, ele vendeu o espaço, na Galeria Pinheiro Lima, na Praça Tiradentes, para se dedicar a projetos no Rio de Janeiro.

O artista carioca, formado no Teatro Ziembinski na capital carioca, aportou por aqui pela primeira vez em 2004, quando apresentou o espetáculo O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, no Festival de Teatro de Curitiba. Na ocasião, conheceu a então estudante de Letras Carla Regina, por quem se apaixonou e o fez ficar.


“Comecei dando aulas no antigo prédio da União Paranaense de Estudantes até conhecer a Rosângela Craveiro, que precisava de alguém para ocupar o Teatro Celeiro”, conta. Na época, a proprietária estava encerrando a parceria com o diretor Edson Bueno, que comandou o espaço durante dois anos.

Com intenções de sair do Paraná, Rosângela ofereceu o teatro a Reikrauss no início de 2007, que decidiu comprá-lo, com o apoio da mulher. Surgia o Teatro Reikrauss em Curitiba. “Comecei a montar peças para ficar em cartaz semanalmente. Descobri rapidamente que era difícil ser proprietário de um teatro e ainda fazer produções artísticas”, confessa.

Em alguns meses, percebeu que comédias de relacionamento atraíam mais público do que os clássicos de Molière e os monólogos experimentais. As pesquisas cênicas que sonhava em fazer quando mais jovem ficaram de lado, pois precisava pagar as contas. Seu maior sucesso nesse período se tornou Eu Caso, Tu Casas, Eles Se Separam, adaptado do texto de Ricardo Hofstetter.

“Quando vi o que funcionava para atrair plateia, transformei o processo construção teatral em uma espécie de fábrica”, lamenta. Até o início deste ano, o repertório de sua companhia teve produções como Um Amor, Um Casal e Mil Complicações, A Terapia Familiar e A Melhor Missa É o Sétimo Dia.

Polêmicas

Em 2011, Reikrauss se envolveu em uma polêmica ao montar o espetáculo O Casamento da Minha Esposa, do dramaturgo mineiro Sérgio Abritta. De acordo com o artista carioca, a peça foi divulgada no Festival de Teatro de Curitiba como sendo de sua autoria por engano, o que provocou a ira do autor do material original quando descobriu. “Ele me acusou de plágio, algo que nunca fiz. Errei ao fazer a montagem sem autorização, mas nunca disse que o texto era meu”, se defende.

Ex-entusiasta dos teatros particulares da cidade, o artista também teve problemas com a organização de eventos como o Festival de Verão, que reunia apresentações de peças locais. “Era um evento legal nas primeiras edições. Mas, depois, passou a ser mídia de outros produtores da região e ficamos sem retorno de público.” Este ano, ele chegou a cancelar várias apresentações pela falta de plateia.

Apesar dos problemas, Reikrauss é bastante otimista com relação ao cenário teatral de Curitiba, que diz ser formado por um público jovem, que tende a se perpetuar ao longo dos anos. O diretor vai para o Rio de Janeiro com o apoio da Funarte para trabalhar no Teatro Glauce Rocha. O contrato é para quatro meses. “Mas vou para ficar por lá de vez.”

Nova gestão do teatro pretende resgatar glamour do Cine Glória

Os novos proprietários do antigo Cine Glória querem retomar o antigo status cultural do local, que até o início deste ano era conhecido como Teatro Reikrauss. A nova gestão pretende transformar o espaço em um centro de atividades voltado para a classe artística e para o público em geral.

“Estamos preparando uma série de parcerias com escolas de cinema de Cuba e com personalidades da cultura local”, diz o produtor cultural Juliano de Paula Santos, que vai administrar o teatro ao lado de Gehad Hajar. Um dos grupos que deve auxiliar nesse resgate do agora rebatizado de Teatro Cine Gloriah é a companhia Vigor Mortis, do dramaturgo e cineasta Paulo Biscaia Filho.

O artista realizou uma estreia informal do espaço na última quinta-feira, 17, quando apresentou os novos projetos de sua trupe: uma websérie de entrevistas comandada por uma das personagens da peça Seance – As Algemas de Houdini, o teaser de seu novo filme Devassos – Um Romance Snuff (atualmente em fase de pré-produção) e uma cena do espetáculo Duplo Homicídio na Chaptal 20, que estreia no fim do ano no Teatro Novelas Curitibanas.

História

O novo Teatro Cine Gloriah, que ainda não foi oficialmente inaugurado, retoma a memória dos melhores dias do cinema da Galeria Pinheiro Lima. O local foi uma referência cultural na cidade na década de 1960, quando exibiu clássicos como 8½ (1963), de Federico Fellini, e Blow-up - Depois Daquele Beijo (1966), de Michelangelo Antonioni. Nos anos 1980, no entanto, virou um cinema dedicado à exibição de filmes de sexo explícito. Em 1991, o espaço foi incendiado por marginais e ficou abandonado até o início da década seguinte.

A transformação em Teatro Celeiro ocorreu em 2003, quando se tornou propriedade de Rosângela Craveiro. Dois anos depois, ela montou uma parceria com o dramaturgo e diretor paranaense Edson Bueno, que rebatizou o espaço com seu nome. “Foi um momento ótimo para a minha carreira. Apresentei várias peças do Grupo Delírio, como Metamorphosis, do Kafka, e Macbeth, de Shakespeare”, relembra o artista.



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