Dossiê Maiakóvski

Brecht leu Vladimir Mayakovsky em seu

"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. 
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. 
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, 
rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. 
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada." 
....e depois escreveu" Primeiro levaram os negros"
"Primeiro levaram os negros, 
mas não me importei com isso; eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários, 
mas não me importei com isso; eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis, 
mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados, 
mas como tenho meu emprego, também não me importei.
Agora estão me levando, mas já é tarde. 
Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo."
...e ai descubro Martin Niemoller e seu "Primeiro levaram os judeus"
Primeiro levaram os judeus,
Mas não falei, por não ser judeu.
Depois, perseguiram os comunistas,
Nada disse então, por não ser comunista,
Em seguida, castigaram os sindicalistas
Decidi não falar, porque não sou sindicalista.
Mais tarde, foi a vez dos católicos,
Também me calei, por ser protestante.
Então, um dia, vieram buscar-me.
Mas, por essa altura, já não restava nenhuma voz,
Que, em meu nome, se fizesse ouvir.
Despertar é preciso

e ai temos a versão do brasileiro Educardo Alves da Costa " No caminho, com Maiakóvski"




Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Nenhum comentário:

Postar um comentário